
Prepara tudo com grande antecedência, é metódico, organizado, observador e nunca descura os pormenores. André Villas-Boas é um líder exemplar, um treinador elogiado por todos os que consigo já trabalharam. A sua passagem pela Académica, por exemplo, deixou marcas profundas no clube e o trabalho que lá desenvolveu serviu como pista para o que fez no FC Porto, pese embora as distintas realidades.
São poucos os que duvidam do sucesso do seu método de trabalho, nenhuns se apenas tivermos em conta aqueles com quem trabalhou em Coimbra. Zé Nando e Pedro Roma foram seus adjuntos na Briosa e ficaram rendidos ao seu profissionalismo. Desde a primeira reunião, Villas Boas deixou claro o que pretendia.
"Lembro-me perfeitamente do primeiro contacto. Fui apresentado ao André na nossa primeira reunião e vi uma pessoa empenhada, motivada e pronta a investir nele e no clube. Conseguiu envolver-nos a todos no projeto que tinha em mente", contou-nos Zé Nando.
A sua tenra idade (32 anos) nunca chegou a ser obstáculo e acaba por passar depressa para segundo plano, face à competência que demonstra de imediato. Ainda assim, tal como agora sucede no FC Porto, também na Académica fez-se rodear por adjuntos mais velhos. "Ele era o mais novo da equipa técnica, mas respeitou-nos sempre. Ao fim de pouco tempo já nos questionávamos: ‘O que interessa a idade?' Se calhar ele até era mais maduro do que nós. Os adjuntos mais velhos apenas lhe proporcionam uma maior estabilidade, são um travão à sua fogosidade, à sua vontade de querer mostrar tudo num só dia, à irreverência própria da juventude", prosseguiu Zé Nando.
O treino
Das apresentações ao primeiro treino foi um instante e Villas-Boas continuou a confirmar a sua enorme competência.
"A tática está sempre presente nos trabalhos durante a semana, seja em que exercício for", explica ainda Zé Nando, prosseguindo com pormenores: "As vivências num treino do André são as mesmas das de um jogo. Ele induz aos jogadores os comportamentos que pretende deles, para que não fiquem surpreendidos com o que vão encontrar."
Os vídeos relativos aos adversários acabam por ser uma componente dos treinos e são visionados antes do início da primeira sessão de trabalho. "São vídeos objetivos, curtos e muito pragmáticos. Quando os exibe faz o papel de um professor na escola. Os adversários são totalmente esmiuçados", explica o seu antigo adjunto.
O jogo
Quando chega a hora da verdade, André Villas-Boas não se apresenta nervoso. Durante os desafios só é interventivo caso o plano de jogo não esteja a ser cumprido pelos seus jogadores.
"A sua postura depende sempre da atitude dos atletas. Quando eles cumprem o que lhes é pedido as mensagens do André são estabilizadoras, mas quando isso não acontece é o primeiro a chamar os jogadores à atenção. Tira sempre muitas notas e, no intervalo, faz as correções que acha serem necessárias", revela ainda Zé Nando.
A tática
"O 4x3x3 é o ponto de partida, mas depois podem surgir várias alterações na dinâmica da equipa, consoante o que o jogo estiver a pedir. O André exercitava as variantes nos treinos e os jogadores estavam preparados para tudo", prossegue o ex-adjunto da Briosa, dissecando de seguida os motivos que levam o portista a optar por esse sistema tático: "O seu ideal de jogo privilegia o 4x3x3, mas isso pode ser alterado face às características dos jogadores que tem à disposição. Mas, muitas vezes, era o adversário que nos obrigava a mudar. Nós tínhamos variantes no 4x4x2 e no 3x4x3. Ele gosta de ter posse de bola, de vê-la circular entre os seus jogadores, de dominar o jogo e o 4x3x3 acaba por ser o sistema ideal para isso."
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