
O futebol tem coincidências engraçadas. O FC Porto começa a época como no ano passado, no mesmo sítio, com um golo marcado pelo mesmo jogador e no mesmo minuto.
Luzes, câmara, acção. Vai, João, dás de calcanhar, eu cruzo de letra e alguém aparece para acabar, é perfeito, fazemos isto à Picasso, com arte. Papel, caneta, desenho, risco perfeito, traçado elegante: calcanhar de Moutinho, letra de Hulk, escrita requintada, ao detalhe, para Rolando concluir. Três minutos para pensar, uns instantes para levar o plano da mente para os pés, uns pós de fantasia e caminho aberto. Cento e oitenta segundos para pôr os dragões nas nuvens, radiantes e deliciados. E a suspirar por mais. Garra, gula, pressão. Jogo simples, veloz e contundente. Um cruzamento de letra, uma cabeçada certeira e bons registos: máquina para trucidar?
O Vitória tremeu. Sofreu um golo cedo, activou pensamentos nefastos, imaginou-se como no Jamor em Maio e duvidou de tudo. O FC Porto impôs-se, dominou, marcou, pressionou. Pegou na bola, trocou-a e encaminhou tudo a seu favor. E, já se sabe, pelo menos está escrito, a única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada. O Vitória não fez uma coisa nem outra. Mostrou-se nervoso, intermitente e errante. Não fechou os caminhos e hesitou entre levantar o escudo ou esticar a espada: laissez faire, laissez allez, laissez passer. Faltou sempre uma referência na área.
A máquina azul foi baixando de intensidade. Diminuiu o andamento, perdeu rotações e acalmou os ímpetos. Deixou de ser tão pressionante, deixou de ter os olhos só colados na baliza de Nilson e deixou a envolvência dos primeiros vinte e cinco minutos. O Vitória assustou Helton, ganhou um canto, colocou alguém na área, pelo menos em bola parada, e foi feliz com isso. Chegou ao empate sem ter feito por merecer, sim, mas conseguiu-o. E embalou para o seu melhor período. O FC Porto rolou, enrolou, perdeu cor e sofreu o empate. Mas lançou-se outra vez para o ataque e demorou pouco até repor a vantagem. Rolando, outra vez.
O golo do FC Porto bateu forte no Vitória. A esperança esfumou-se. Um guerreiro nunca desiste, nunca deixa de lutar, guarda sempre o castelo e quer fazer pela vida. Só que ao Vitória faltaram forças, faltou ligação e faltou rasgo. O FC Porto deixou água na boca no início, teve génios à solta, um verdadeiro carrossel, de futebol e de paixão, mas depois esfriou. Revelou desconcentrações defensivas, jogou mais em esforço e foi menos dinâmico. Mesmo assim nunca perdeu a superioridade nem o controlo. O golo de Rolando, o segundo, deu-lhe paz de espírito. E sossegou o jogo.
A bandeirinha branca do Vitória, o sinal de rendição, demorou a aparecer. Ou, melhor, apenas apareceu no final, no último apito, quando nada mais havia a fazer. Até lá, com as armas disponíveis e com o espírito possível, tentou assustar Helton. Esteve perto do empate, por Maranhão, numa desconcentração de Rolando, herói-quase-vilão, que Maicon resolveu bem. Não passou de ameaça. O FC Porto foi melhor, voltou a ganhar uma prova que domina, arranca com um troféu e sacia a gula de ganhar. Para já, está a rolar. Ou melhor: vai Rolando.
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